sexta-feira, 19 de junho de 2009

O fim do diploma e do bom senso

Gostaria de convidar os oito ministros do Supremo Tribunal Federal que votaram contra a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para viajarem num avião conduzido por um "piloto" sem formação ou para se consultarem com um "médico" que não cursou medicina. Ora, se para eles o estudo é tão desnecessário, creio que não se importariam em serem servidos por profissionais despreparados.

Justo eles que vivem preocupados com a exposição negativa na mídia, que vivem se justificando por suas gafes, deveriam ter sido bem mais cautelosos ao definir os rumos do tido como quarto poder do Estado brasileiro, a imprensa. Mas, bom senso é algo que parece simplesmente não existir no governo desse país.

Cada dia há um escândalo novo. Um que está se lixando para a opinião pública, ministros do STF que se engalfinham em frente às câmeras de TV, outros ainda que tem a cara de pau de defender cabidões de emprego no setor público. Sinceramente, não podia esperar absolutamente nada desses "profissionais" (entre aspas sim, porque nem sei se eles podem ser assim chamados).

Entretanto, não quero ser hipócrita. Alguns deles até tem razão quando dizem que estudo não é garantia de ética e profissionalismo. E não é mesmo. Isso tem muito a ver com caráter, educação familiar, convivência social, mas também com formação.

Médicos formados comentem erros fatais. Pilotos experientes também derrubam aviões. Mas convenhamos que a probabilidade disso acontecer é infinitamente maior quando falamos de profissionais sem formação. Agora, se mesmo bem preparado o ser humano é passível de falha, imagine então se ele não estudar?!

Isso quer dizer que devemos estudar cada vez mais para minimizar nossas chances de erro (que podem ser tão letais quanto as de um médico ou um piloto. Inúmeros casos da história da imprensa brasileira comprovam isso) e não simplesmente ignorar a formação acadêmica!

Não posso negar que nós, jornalistas, demos brecha. Nisso os profissionais de comunicação empresarial estão se saindo muito melhor que os da redação. Raramente vemos repórteres ou editores voltando para as universidades em busca de especializações e muito menos em outras formações. Se quero ser um bom jornalista de economia, tenho que entender economia. Se cubro a área de saúde, devo ter conhecimentos profundos sobre a área. Ou seja, jornalista nunca será mesmo uma profissão completa. Nós é que temos que correr atrás de algo que nos complete. Nada de profissionais "genéricos"!

Se nós tívessemos nos preocupado mais com isso, não deixaríamos nossos lugares vagos para os economistas, para os consultores de moda e muito menos para as celebridades instantâneas (com ex-BBBs que viram repórteres, apresentadoras). Se estamos passando por essa lamentável situação, a culpa também é nossa.

Somos profissionais de comunicação, cuidamos da imagem de todo mundo e nos esquecemos da nossa própria imagem! Fizemos com que a sociedade nos visse como profissionais facilmente substituíveis. Com uma formação que não agrega em absolutamente nada. Infelizmente, fizemos espetos de pau na nossa casa de ferreiros.

Se ainda nos restar um pingo de bom senso, (coisa que eu jamais esperaria dos governantes) proponho que comecemos já a mostrar a nossa verdadeira face para a sociedade. Temos que provar que somos sim muito importantes e que a qualidade e credibilidade da informação nesse país depende de profissionais formados e muito bem preparados. Para isso, além de cuidar da nossa imagem, temos que estudar mais. Só a especialização nos fará vencer essa guerra que vai muito além do simples fato de um papel ser obrigatório ou não. Estamos falando do resgate da moral da nossa categoria.

Vamos refletir sobre isso.

8 comentários:

Karin disse...

Marília, concordo em parte com você. Acho que toda e qualquer profissão exige respeito, principalmente daqueles que a exercem. Infelizmente não é assim que acontece. Nessa decisão do Supremo foram colocados "no mesmo saco" todos os tipos de comunicação, e talvez esse seja o erro. Alguns setores do jornalismo exigem realmente a formação acadêmica das faculdades, a noção de ética e responsabilidade que escrever sobre alguns assuntos exige. Por outro lado, comunicar-se é um dom e quem o tem tem o direito de usar, mesmo não sendo jornalista. Economistas, consultores, advogados, médicos, nutricionistas, veterinários, engenheiros, com bom traquejo frente às câmeras e/ou com bom texto podem e devem dividir o que sabem. Não podemos esquecer que vivemos em um país de ignorantes. Toda luz de conhecimento é válida e necessária. Não acho correto exigir um diploma universitário de todo mundo que se propõe a escrever um texto sobre um assunto que domina bem, seja para um site, para um jornal ou uma revista. É o mesmo que exigir que todo autor de livro seja jornalista ou que um treinador de futebol que seja formado em educação física. Para a parte técnica existem aqueles que se formaram para isso: fisioterapeutas, médicos, preparadores físicos... revisores, e editores!! Ao técnico e ao colunista cabem a parte criativa, a visão estratégica, o toque inventivo que só ele tem.
Os maiores escritores de nosso idioma não eram jornalistas, e isso não arranha o brilho de suas obras.
Celebridades instantâneas também não tiram o trabalho de jornalistas: estão ali para emprestar sua imagem de celebridade, atrair o público pela condição de estrela, não pela sua competência jornalística, e isso o jornalista não teria para dar, por mais competente e preparado que fosse.
Po trás da ex-BBB tem uma equipe onde, certamente, há um jornalista. Ele só não está na frente das câmeras.
Tem espaço para todo mundo que for realmente competente.
Respeito muito a profissão de jornalista e toda a pesquisa, a dedicação, o complemento de conhecimento que os profissionais sérios procuram adquirir para realizar a cada dia um trabalho melhor.
Talvez a decisão do Supremo tenha sido genérica demais, mas mesmo assim acho que sempre haverá espaço para aqueles jornalistas sérios e comprometidos com fazer um trabalho de qualidade.
Um aspecto importante a ser considerado é a qualidade das faculdades de jornalismo. É muito comum recrbermos textos de "acessores" de imprensa praticamente analfabetos. É muito triste ver uma profissão tão nobre e tão necessária à democracia ser tão mal cuidada pelas entidades que deveriam formar os profissionais do futuro. Se os jornalistas não souberem mais escrever, a profissão está condenada a desaparecer...

InformaMídia Comunicação disse...

Você tem toda a razão. Mas colunas, para mim, não são vistas como jornalismo há décadas. Acho que o público já consegue fazer essa distinção.

Essa decisão "genérica" como você bem coloca só resolve a vida desses profissionais a custa de prejudicar a de todos os outros que atuam na área.

Quanto aos livros, eles sim representam a liberdade de expressão e o conhecimento técnico de cada área. Um jornalista não é adequado para escrever um livro de medicina. Isso é mais que óbvio.

Mas o que está em questão é o jornalismo exercido pelos jornais, revistas, internet e etc. São os meios, os canais de distribuição de informação pelo país. Esse sim deve ser impreterivelmente executado por profissionais muito bem formados. Com exceção, é claro, para as colunas e artigos porque eles não tem característica jornalística em sua essência.

Já quanto aos BBBs, acho que eles tiram sim o lugar de jornalistas formados e bem preparados para a função. Esse "empréstimo de personalidade" na minha opinião, só contribui para o sensacionalismo barato.

É óbvio que se os BBBs estudarem e se preparem para a função terão capacidade de exercê-la de maneira muito competente.

Um bom exemplo é a Grazi Mazzafera que aproveitou a fama instantânea, conquistou uma vaga e deu um duro danado estudando para não ser apenas mais um rosto com passagem efemêra pela Rede Globo. Imagino que ela tenha sofrido muito, se dedicado e está vendo a recompensa no reconhecimento de seu trabalho e não pela participação num reality show.

Enfim, sou a favor da democracia. A educação nivela os profissionais (para cima, é óbvio). Isso não quer dizer que talentos natos não devam ser reconhecidos, devem sim. Mas porque não aproveitar o "dom" para aperfeiçoa-lo e deixá-lo ainda melhor? Um diamante bruto tem um valor. Um lapidado tem outro bem superior...

InformaMídia Comunicação disse...

Ah, esqueci de comentar... Infelizmente existem sim centenas de "acessores" e "atrapalhadores" de imprensa.

Inclusive ontem encontrei a seguinte promessa num site: "Você na imprensa por R$0,00
!". Um jornalista, formado, com MTB e tudo, oferecendo assessoria de imprensa por R$ 99,00 reais. Imagine quantos clientes ele precisa ter para sobreviver? Acham que dá para fazer algum trabalho estratégico com esse número de clientes? E mais, acham que é possível sobrar algum dinheiro para investir em sua qualificação profissional? Acho bem difícil...

Em suma, as empresas andam muito receosas com a imprensa e veem nela não só a possibilidade de posicionar sua marca, mas também de conquistar a opinião pública a seu favor. Como isso é extremamente estratégico, elas acabam destinando mais recursos para essa área. Coisa que as empresas jornalísticas mesmo não fazem há tempos (se é que já fizeram algum dia).

Se você perguntar num curso de pós graduação quem tem uma bolsa pela empresa, quase a totalidade dos que responderem que sim são provenientes de grandes corporações. Os veículos quase nunca se propõe a dar uma bolsa de estudos e acham até ruim se o profissional tem que dividir seu tempo entre o trabalho e a universidade... Isso é um absurdo!

Como o é salário é curto (e o incentivo quase nulo), acaba nunca sobrando dinheiro para tirar do próprio bolso e estudar. Muitos certamente gostariam.

Enfim, a polêmica do estudo é grande. Não é que um profissional estudado não erre. Não é isso. Mas as chances de isso acontecer são matematicamente menores.

Mas se quisermos levar apenas para o lado do "autodidata", podemos simplesmente entregar nossa saúde nas mãos de uma curandeira. Elas são boas, talentosas e muitas vezes curam mesmo. Mas não seria melhor se elas aproveitassem seus dons e estudassem medicina?

PósCom UMESP disse...

É verdade, Marília. Precisamos buscar freneticamente a especialização, investirmos na nossa carreira, praticarmos o autodidatismo e não sermos tolerantes com os picaretas que mancham a imagem da categoria. Já o ministro Gilmar Mendes acertará contas com a história mesmo porque tem rabo preso. O momento é de reflexão, mobilização e de serenidade. Vamos em frente. Com colegas como você, a gente supera mais essa. Um abração, Wilson Bueno

nelsontucci disse...

SOBRE A CASSAÇÃO DO DIPLOMA - O ilustre ministro Gilmar Mendes comparou jornalistas a cozinheiros(as) e costureiros(as). Nenhum demérito às demais profissões, igualmente dignas. Mas vindo de quem veio o tom foi, certamente, de achincalhe. Beirou a falta de ética esta infeliz observação. Faltou verniz para um ministro da maior alta Corte do País.
Pessoalmente, nunca soube que uma cozinheira tivesse afastado um prefeito, um governador ou um presidente ladrão do ser cargo. Não pela via democrática, ou pelo uso de métodos ortodoxos, pelo menos.
Não tenho notícia de costureira ter descoberto esquemas de venda de sentenças pelo poder judiciário. O que se dirá então de mensalão, passagens aéreas e a farra interminável que acontece pelos corredores do Legislativo.
O jornalista tem sido um legítimo fiscal da democracia e, por consequência, um exemplo bem acabado do exercício pleno da cidadania. Achincalhar esta função pode ter algum motivo não explicitado ainda. A democracia perde feio com esta decisão.

Johnny Nastri disse...

O problema todo nessa questão é que como ministros com rabo preso, isentos de qualquer tipo de ética, podem aprovar algo que comece com REGULAMENTAÇÃO?

Não adianta quem justifica sobre "agora teremos mais liberdade de expressão". Começa aí o erro de quem acha que qualquer um pode ser jornalista. Esse profissionais não têm de ter liberdade de expressão, mas qualidade de apuração e isenção.

Quer opinar? Crie um blog, consiga um espaço dentro de uma coluna de jornal. Escreva um livro. Pronto.

Jornalista é a ferramenta social que cria vias para levar notícia à sociedade, esta sim, detentora do direito de liberdade de expressão.

Pior que se fosse só esse o problema, poderiamos parar de nos preocupar. O problema mais grave, na minha opinião, é quem poderá se dizer "jornalista responsável" de agora pra frente.

Um político em época de eleição, que cria um veículo para mostrar todas as suas "qualidades"? Ou mesmo forjá-las?

"Jornalistas" interessados simplesmente no lucro de anúncios?

Se mesmo jornalistas formados cometem barbaridades (vide casos como o da escola Base), imagine como nosso Brasil ficará de agora pra frente?

As faculdades são pífias? Concordo. Diploma não garante qualidade? Concordo.

Mas servem como filtro. E mesmo que eles deixassem de existir, a coisa toda não deveria ter sido ditada como foi. A discussão vai muito além de simplesmente tirar a obrigatoriedade do diploma.

Tire, mas que se crie normas para regulamentar a profissão e evitar a banalização da informação.

Incrível como essas coisas não passam pela cabeça de ninguém, só de algum jornalistas mesmo.

Mas fazer o que se muitos defendem a queda do diploma porque encontrou a chance de ganhar o status de "eu sou jornalista".

Grandes coisas!

Maíra Palha disse...

Marília, excelente posicionamento. Comecei a escrever no meu blog (www.misturacriativa.blogspot.com) há pouco tempo e quando a notícia foi para o ar parei tudo para fazer um post. Sou jornalista formada e tenho pós-graduação em comunicação empresarial. Acho que a especialização é imprescindível para a atuação em qualquer profissão. Terminei minha pós recentemente e já estou em busca de outro curso que aprimore meus conhecimentos. Vejo que muitas pessoas estão chegando nesse mercado despreparadas e acho que estava na hora das faculdades se preocuparem mais com isso, mas com o desprezo ao diploma fica difícil acreditar que essa realidade vai mudar. Parabéns pelo blog. Sempre acompanho. E já votei ehehe. Abraços!

nelsontucci disse...

E O ERRO CONTINUA. Como não mexo com outros programas, não consigo desenhar aqui neste espaço, mas tentarei ser claro para ajudar quem ainda faz alguma confusão.

Jornalista é quem escreve, faz ´copidescagem´, reportagens, pautas, edição de textos e se responsabiliza por uma publicação. Isso é FUNÇÃO de jornalista e é preciso ter técnica, ter código de ética, conhecer legislação etc. Daí a necessidade de diploma.

Para ter direito à livre opinião, escrever uma Coluna, Carta ao Leitor, comentários sobre futebol, medicina ou horóscopo NÃO PRECISA ter diploma. Aliás, a maioria que faz isso HÁ TEMPOS não tem mesmo.

Quem quiser montar um BLOG, um twitter ou cousa que o valha TAMBÉM NÃO PRECISA TER DIPLOMA.

Mas quem desejar ingressar em uma carreira, exercer uma profissão, ter responsabilidade por esta, precisa se preparar antes.

É simples assim.