segunda-feira, 22 de junho de 2009

Diploma de jornalista?

Depois do meu desabafo sobre o fim da obrigatoriedade do diploma recebi um e-mail um tanto importante do diretor da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Arcírio B. Gouvêa Neto. Com a sua autorização, resolvi publicá-lo no InformaBlog. Segue abaixo suas palavras.

"Somos uma classe completamente dispersa, indiferente e de nariz em pé, achando que é intocável e acima do bem e do mal. Centenas de casos pelo País inteiro pipocam a todo instante na comissão e os coleguinhas não estão nem aí para os problemas de seus companheiros de redação. Querem simplesmente sentar na cadeira, bater suas matérias no computador, se beneficiar das mordomias da profissão (em muitos casos, até financeiramente) e ir embora curtir sua vida, no fim do dia. O resto que se....oda.

Não participaram das questões que envolveram a decisão do STF, não acompanharam o processo, e muitos, talvez a grande maioria, nem sabiam o que estava acontecendo. Nunca se mobilizaram. Somos uma classe extremamente desunida, que não se mobiliza pra nada, passiva, sem força nem decisão. Era pra estar na rua, era pra fazer um tremendo estardalhaço, forçar que a decisão fosse diferente, mas nas ruas e não simplesmente comentar entre uma cerveja e outra na mesa de um bar. Agora é tarde e serve pra que os companheiros acordem, ainda mais agora, que foram comparados aos cozinheiros (se não me engano. E nada contra os cozinheiros). Mas a frase do malfeitor e bandoleiro, Gilmar Mendes, serve pra muita gente abaixar o nariz.Profissionais Despreparados.

Outra coisa: nossa profissão (e tenho 30 anos de jornalismo) vem sendo desqualificada nesses últimos tempos, esculhambada e com profissionais completamente despreparados para a atividade que exercem. Essas faculdades de comunicação não funcionam, querem apenas dinheiro e botam no mercado uma leva de sonhadores sem nenhuma competência, que nem imaginam o que encontrarão pela frente no dia a dia da atividade. Erros terríveis de português são comuns diariamente na mídia, erros elementares, ginasianos, inadmissíveis em jornalistas. E como não têm, portanto, o jornalismo na veia, até por estarem as redações lotadas de estagiários, descompromissados com a profissão e mais preocupados com baladas e futilidades ipodianas, deixaram a coisa degringolar dessa forma.

Para terminar, participo de várias reuniões, tanto na ABI como no Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, e sempre encontro as mesmas pessoas, em sua maioria, acima dos 40 anos. Pergunto: onde está todo mundo? Onde estão os milhares de jornalistas formados a todo ano por esse Brasil? Sempre escuto, quando vou a algum evento envolvendo alunos de comunicação, estarrecido, a mesma pergunta: "Mas o que é ABI?". "Pra que serve o sindicato?". Penso: "Quando morrermos quem assumirá essas entidades"? Elas não nos pertencem, são da categoria, mas onde está a categoria? Quando entendermos que o mundo é uma grande cooperativa e ninguém sobrevive sozinho talvez consigamos tirar nossa profissão do túmulo. PS – A tempo – não vamos jogar a culpa toda naqueles com menos de 40. Faço a mesma pergunta, desta vez, com um enfoque um pouco diferente: onde estão também os medalhões do jornalismo? Aquelas figuras pomposas e altaneiras que emolduram as telas dos telejornais diários e o mundo do jornalismo? Onde estiveram todos eles que não se manifestaram durante o processo de julgamento da ação no STF? Deixaram que a Fenaj, os sindicatos estaduais e a ABI resolvessem o problema sozinhas, quando eles, com seu prestígio e influência, poderiam ter mudado os rumos do navio e salvado seus tripulantes do naufrágio?

Espero ter ajudado!

Arcírio B. Gouvêa Neto(arciriogouvea@jornalsobretudo.com)"

Um comentário:

Flávia Romanelli disse...

Concordo plenamente e inclusive escrevi a respeito no meu blog.