quarta-feira, 15 de abril de 2009

Comunicação interna em processos de fusão

Praticamente todos os dias temos ouvido falar em fusões e aquisições. Mais do que estar na moda, esse se tornou um dos recursos mais usados para enfrentar os tempos de crise financeira. Alguns, fadados à falência se colocam à venda, outros buscam parceiros para sobreviverem.

Nesse cenário entra em ação uma peça fundamental: a comunicação interna. Afinal, o clima de insegurança é generalizado e as pessoas costumam ficar divididas entre o universo do "não mais" (nada vai ser como antes, saudosismo) e do "ainda não" (não sei exatamente como vai ser o futuro). Enfim, o presente parece mais um castigo.

Aproveitei esse assunto para apresentar um trabalho na pós. Falamos sobre a aquisição do BankBoston pelo Itaú. Poderia ter falado de um caso mais recente, como a fusão com o Unibanco ou mesmo entre o Santander e Real, mas quis pegar um case completo, onde já temos uma conclusão conhecida.

O cenário era bastante interessante. O Boston, filial de um banco norte-americano com apenas 5 mil funcionários e uma carteira de 184 mil clientes de alta renda. O Itaú, um brasileiro gigante do varejo com mais de 59 mil funcionários e 21 milhões de clientes (dados de 2006, quando houve a fusão). E mais: 97% dos funcionários tinham orgulho de trabalhar no Boston e 94% dos clientes estavam satisfeitos com o banco. Se dizem que em time que está ganhando não se mexe, o Itaú teve que mexer.

O case rendeu vários prêmios em especial pela troca recorde da marca que por uma decisão contratual aconteceu em único fim de semana. Imaginem, os funcionários sairam do Boston na sexta e na segunda chegaram para trabalhar no Itaú. Em menos de 15 dias a marca BankBoston havia simplesmente desaparecido tanto para funcionários quanto para clientes.

O projeto de comunicação interna foi louvável. Uma série de ações para receber e integrar os novos funcionários. Houve até explanação presencial com o presidente do Boston a todos os funcionários. Técnicamente perfeito.

No entanto, os choques culturais vão muito além de um plano de comunicação bem feito. E contra isso não há muito o que fazer. O Itaú reservou 10 milhões de dólares para usar em programas de retenção de talento dos executivos do Boston, entre aumentos de salário e bonificações. Mesmo assim, apenas 72% dos funcionários continuaram no Itaú durante a fusão. Destes, apenas 88% continuavam no banco em janeiro de 2008.

Quero mostrar com isso que a comunicação interna pode sim ser decisiva, mas há valores imutáveis e cultura é uma coisa infinitamente particular. Alguns se adaptam, outros não. Enfim, nunca haverá um processo de fusão ou aquisição capaz de agradar a gregos e troianos. Mas, nosso papel como comunicadores e reduzir as perdas ao máximo. Sempre.

3 comentários:

Matheus Costa disse...

Excelente tema e texto com fluidez! Que tipo de ferramentas temos para trabalhar em momentos como esses, que podem ser comparados com uma "crise" na empresa do ponto de vista comunicacional? Mural? Intranet? Algo mais humano? O quê?

InformaMídia Comunicação disse...

Sim, essas e muitas outras. O Itaú usou adesivos em elevadores, chão, conversas pessoais com os presidentes, entrega de kits com a visão da empresa, crachá, mensagens do presidente, etc...

Unknown disse...

Olá!
Meu nome é Thaís e trabalho na Comunicação Interna da TNT, multinacional holandesa do setor de transportes - líder no transportes de cargas expresssas no Brasil.
Recentemente adquirimos uma companhia do setor e em breve teremos o início da divulgação de mudanças e início efetivo do processo de integração.
gostaria de saber se é possível acessar o seu trablaho de Pós-graduação e se você tem outras referências sobre fusão (este propavelmente será meu tema de conclusão de pós)
desde já agradeço.
um abraço